Pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) desenvolveram um gel cicatrizante à base da pele de tilápia que tem mostrado resultados promissores no tratamento de feridas em animais. Produzido por alunos e professores do Departamento de Ciências Farmacêuticas (Defar) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF), o produto tem apresentado redução significativa da área machucada já na primeira semana de uso. Até o momento, 44 cães e gatos estão sendo acompanhados pelos pesquisadores.
O coordenador do estudo, professor Flávio Luís Beltrame, explica que o gel é aplicado diretamente sobre as lesões, promovendo a reestruturação da pele. A inovação foi reconhecida pelo Programa de Propriedade Intelectual com Foco no Mercado (Prime), que apoia projetos científicos com potencial comercial. “O produto contém o hidrolisado do colágeno da tilápia, responsável por estimular a cicatrização de forma mais rápida e eficiente”, destaca Beltrame.
O ingrediente principal vem do laboratório do professor Eduardo César Meurer, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), campus de Jandaia do Sul. Lá, o colágeno é processado e enviado em forma líquida à UEPG, onde passa por secagem e é transformado em pó. Esse pó é, então, utilizado como ativo farmacêutico na formulação do gel.
A pesquisa teve início há cerca de quatro anos, com o veterinário Rodrigo Tozetto, então mestrando do PPGCF. O estudo avalia a atividade antimicrobiana e cicatrizante do composto. “Notamos que a aplicação do gel acelera a recuperação de feridas e queimaduras em comparação a outros tratamentos”, explica Tozetto, que agora dá continuidade ao projeto no doutorado, sob orientação da professora Priscileila Ferrari.
O grupo também analisa a estabilidade físico-química do produto e realiza ensaios clínicos veterinários, testando o gel em diferentes tipos de feridas, como as decorrentes de castrações ou traumas. A mestranda Ana Carolina Ventura destaca que o processo de secagem do colágeno permite a criação de diversas formulações, como hidrogéis. “Estamos avaliando o prazo de validade e o comportamento do produto em diferentes condições de temperatura e umidade”, afirma.
Nos testes práticos, o gel é aplicado duas vezes ao dia e apresenta resultados visíveis em cerca de uma semana. O tempo total de tratamento varia conforme o estado de saúde do animal, podendo chegar a 35 dias. Um dos casos acompanhados é o da gata Pixy, resgatada com ferimentos nas patas e na barriga. “Foi emocionante ver a recuperação dela. Hoje, está saudável e brincalhona”, conta a doutoranda Anna Claudia Capote.
No fim de setembro, o projeto foi premiado pelo Prime, iniciativa da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), em parceria com a Fundação Araucária e o Sebrae-PR. Foi a primeira vez que a UEPG recebeu o reconhecimento, com direito a certificado de excelência e um cheque simbólico de R$ 200 mil.
Segundo o professor Flávio, o recurso será investido para ampliar a produção e pesquisa dentro da própria universidade. “Nosso objetivo é realizar todo o processo — da extração da proteína até o desenvolvimento de novos produtos — e buscar parcerias com universidades e empresas para levar essa tecnologia ao mercado”, conclui.
								
															
								




